segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O não uso da cor na fotografia

(por Cid Costa Neto)

A primeira fotografia colorida surgiu em 1861, mas apenas em 1935 ela tornou-se verdadeiramente popular, com o surgimento do filme Kodachrome. Mas embora a tecnologia já permitisse o uso de cores na fotografia, o uso do filme preto e branco manteve-se em alta por muito tempo. Em grande parte, isso se deve a uma maior facilidade na revelação (quando ainda manuais), em outra, por questões visuais.
É muito comum alguns fotógrafos optarem por utilizarem o preto e branco na fotografia, seja como estilo estético ou numa tentativa de mascarar, na pós produção, a sua inabilidade em trabalhar com as cores. A opção de não utilizar cor, no entanto, deve ser algo pensado previamente, de forma a fazer parte da estética e conceito da imagem desde o seu nascimento.
Trabalhar com a cor é algo que exige uma atenção particular. Com uma grande força visual, algumas cores, por vezes se destacam com evidência imediata da percepção, desapropriando de alguns objetos, a importância que estes deveriam ter em cena. Em contraponto, uma determinada cor pode dar valor a algo que deveria manter-se em segundo plano. A decisão de abrir mão do uso de cores deve ser portanto, um ato consciente, para concentrar o valor do trabalho nos corpos e formas dos objetos, pessoas e lugares, valorizando linhas, texturas ou contrastes, de acordo com a idéia que o fotógrafo deseja passar.
Além da questões sensoriais e estéticas, é importante observar que o não uso da cor passa também por questões simbólicas que agregam valor a uma imagem. A ausência de cor na verdade, é representada na fotografia por tons de cinza, que se relacionam com melancolia e por estarem entre o branco e o preto são consideradas incertas, neutras.

PEDROSA, Israel. Da cor a cor inexistente. 9. ed. Rio de Janeiro, Léo Christiano, 2002. p. 118-119.